A MONTANHA DA ÁGUA LILÁS, de Pepetela:
A
história e as lições que uma história oferece
Artur Carlos Maurício Pestana dos Santos, mais conhecido como Pepetela, nasceu no dia 29 de outubro de 1941, em Angola.
Em 1960,
entrou na Faculdade de Engenharia de Lisboa, mas acabou por optar por Letras e,
mais tarde, enveredou por uma carreira política, vindo a ingressar no MPLA –
Movimento Popular para a Libertação de Angola, em 1963.
Lutou pela
independência de Angola e, por esse motivo, foi obrigado a fugir para França e
para a Argélia. Após a libertação de Angola, o romancista foi para o seu país,
em 1975, sendo então nomeado vice-ninistro da Educação, durante a presidência
de Agostinho Neto.
Durante o
exílio, licenciara-se em Sociologia na Universidade de Argel, tornando-se mais
tarde, já em Angola, professor na Faculdade de Arquitetura de Luanda.
Em 1997, Pepetela
venceu o Prémio Camões, um dos mais importantes da língua portuguesa. Esta distinção ajuda a
consagrálo como um nome muito importante da nossa literatura.
A Montanha da Água Lilás é uma espécie de fábula em que o escritor, para, além de contar
uma história divertida, passada na selva, consegue fazer pensar os leitores em
assuntos fundamentais da vida em geral (dos animais e – sobretudo – dos
humanos).
A comunidade de macacos
representa a própria organização das sociedades humanas. Há naquela sociedade
da montanha diferentes modos de ser, de agir, de pensar.
Há os que mandam e os que obedecem. Há os que gostam de trabalhar e os que são
preguiçosos. Há os que são amáveis e generosos, há os que são arrogantes e
agressivos. Quando se dá a descoberta de uma riqueza (a água lilás, que tem propriedades maravilhosas), deveríamos esperar,
em princípio, uma melhoria significativa da vida da comunidade. Contudo, a
novidade acaba por provocar transformações que, pouco tempo depois,
significarão uma verdadeira degradação da vida do povo “lupi” e de todos
animais em geral.
O livro acaba por ser,
pois, uma
lição sobre os perigos da ambição desmedida, do egoísmo, da inveja, da
arrogância, da intolerância e da vaidade.
Os únicos seres que
parecem resistir ao mal são um Pensador e um Poeta. O Pensador representa,
claramente, a Filosofia (a capacidade de refletir sobre a vida e sobre o
comportamento das sociedades e dos indivíduos). É a voz da Razão: vê, desde
logo, o perigo que há em ceder à preguiça, ao egoísmo, à inveja, ao culto do
lucro fácil, à arrogância.
Por sua vez, o Poeta (representante
da Poesia, da Arte e do Sonho) tem, para além da sua natural inteligência, uma
sensibilidade particularmente apurada que lhe permite saber, com antecipação, o
que irá acontecer no futuro se os seus semelhantes teimarem em perseguir apenas
a riqueza material, sem terem em atenção o bem-estar físico e psicológico dos
seus semelhantes.
No fundo, o Pensador e o Poeta
são, ali, os últimos resistentes. São, no fundo, os que sobrevivem sem perder o
sentido ético (o sentido do Bem, da
Verdade e da Justiça) e o sentido da Liberdade (pensar pela própria cabeça,
sem medo de castigos e sem medo do esforço que uma vida livre e digna exige).
Não ler este livro é perder uma excelente história.
E é também desperdiçar a oportunidade de dialogar com um grande escritor da língua
portuguesa.
Arco de Baúlhe, 23
de novembro de 2012.
Joaquim Jorge
Carvalho