Esteiros, de Soeiro Pereira Gomes:
De
pequenas histórias de faz a história da literatura
(e
a história das nossas vidas)
Soeiro
Pereira Gomes nasceu no dia 14 de abril de 1909 e morreu no dia 05 de dezembro
de 1949.
Ao
longo da sua vida, não chegou a publicar muitos livros, mas nem por isso deixou
de ganhar um lugar de grande relevo na literatura portuguesa do século XX.
Pertenceu
a uma corrente de escritores neo-realistas, isto é, autores que – numa espécie
de regresso ao realismo literário do século XIX – pretendiam inscrever, na sua arte, marcas da
vida real que permitissem aos leitores uma mais imediata e franca identificação
com temas, acontecimentos e personagens.
O
romance Esteiros conta a história de
um rapaz (o “Gaitinhas”), que, apesar de excelente aluno, é obrigado a desistir
da escola por ser pobre. O pai é emigrante, no estrangeiro; a mãe é tuberculosa
– e Gaitinhas não tem outro remédio senão ir trabalhar.
Apesar
das dificuldades económicas e dos múltiplos motivos para a tristeza e até o
desespero, o rapaz tem também espaço para se divertir com os amigos,
frequentando festas populares, indo ao cinema, tocando alegremente a sua “gaita
de beiços”.
Toda
a história é uma espécie de grito contra as injustiças de uma sociedade
desigual e aviltante, que condenava os pobres a um destino de escravidão e
indignidade.
O
trabalho infantil e juvenil, hoje felizmente ilegal e de modo geral combatido
pelos países desenvolvidos, é um dos temas fundamentais do livro. Não por
acaso, o autor dedica a sua obra “A todos
os homens que nunca foram meninos”.
Li
o romance aí pelos meus doze anos e já o reli muitas vezes.
Recomendo-o
agora a todos os meus amigos (alunos e colegas, sobretudo). É que deixar por
ler um grande livro é condenarmo-nos à mais triste das ignorâncias - a
ignorância voluntária.
Arco
de Baúlhe, 26 de outubro de 2012.
Joaquim
Jorge Carvalho
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