terça-feira, 29 de janeiro de 2013

LIVRO RECOMENDADO - 23/01 a 7/02 de 2013


 

 
 Descobri, há uns vinte anos, um escritor italiano chamado Gianni Rodari. Andava pelas prateleiras de uma livraria em Coimbra, à cata de autores e títulos que me despertassem a curiosidade e dei de caras com um título original: Histórias ao telefone (título original: Favole al Telefono). De pé, junto da estante, li um pequeno conto do volume com o nome “O caçador desafortunado”. A história era a de um caçador cuja espingarda se recusava, de certo modo, a funcionar. Melhor: era a história de uma espingarda que, em vez de matar, divertia e, portanto, em vez de fazer vítimas, antes lhes provocava alívio e as fazia rir.
O autor explicava que as histórias tinham sido fabricadas por um caixeiro-viajante (o senhor Bianchi, da cidade de Varese), o qual, em obediência a um pedido da filha, arranjava sempre uma fábula para cada noite. Como estava muitas vezes ausente em viagem, o homem recorria frequentemente ao telefone…
Comprei o livrinho, claro. E, já em casa, deliciei-me com outras pequenas e extraordinárias narrativas: “O palácio de sorvete”; “O passeio de um distraído”; “A casa de estragar”; “A mulherzinha que contava os espirros”; “O país sem ponta”; “O des-país”; “Os homens de manteiga”; “Alice Trambolhona”; “A estrada de chocolate”; “A inventar números”; “Brif, bruf, bruf”; “A compra da cidade de Estocolmo”; “Para tocar no nariz do rei”; “A famosa chuva de Piombolino”; “O carrocel de Cesanatico”; “Na praia de Óstia”; “O rato da banda desenhada”; “História do reino de Comilónia”; “Alice cai ao mar”; “A guerra dos sinos”; “Uma violeta no Pólo Norte”; “O jovem caranguejo”; “Os cabelos do gigante”; “O nariz desertor”; “A estrada para lado nenhum”; “O espantalho”; “A brincar com a bengala”; “Velhos provérbios”; “Apolónia das compotas”; “A velha tia Ada”; “O sol e a nuvem”; “O rei condenado à morte”; “O mágico dos cometas”.
Naturalmente, cada uma destas histórias não tem mais de duas-três páginas. O próprio autor o explica, naquela espécie de introdução em que se fala do senhor Bianchi: tratando-se de narrativas transmitidas “ao telefone”, nunca poderiam ser relatos muito extensos…
Ao longo dos anos seguintes, em muitas ocasiões, dei a conhecer estas histórias aos meus alunos. A minha mulher, que também é professora de Português, fê-lo igualmente. E não me lembro de um só leitor que, no final de cada leitura, não se tenha deixado seduzir pelo modo engraçado e inteligente de contar histórias que caracteriza a literatura de Gianni Rodari.
Este autor nasceu em Omegna (Itália), em 1920, vindo a falecer em Roma, em 1980. Foi, além de escritor, um jornalista de reconhecido mérito. A sua obra literária está traduzida em todas as línguas mais importantes.
No livro Histórias ao telefone, que recomendo aos leitores com fome de fantasia, há lugar para o humor e para a diversão – mas também para brilhantes notas poéticas que nos deixam a pensar, comovidos e encantados. Ofereço-vos, já agora, um formoso passo que encontrarão nas páginas 33-34, no final de uma história intitulada “A inventar números”: 
«- Quanto pesa uma lágrima?
- Depende: a lágrima de um menino mimado pesa menos que o vento, a de um menino esfomeado pesa mais que toda a Terra.» (Histórias ao Telefone, de Gianni Rodari, Lisboa, Editorial Teorema, 1987.)

 

Arco de Baúlhe, 25 de janeiro de 2013.

Joaquim Jorge Carvalho

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